#Afonso – Episódio 3: Abre os olhos!
SHORT STORY
Afonso sempre foi de paixões rápidas e fugazes, ora intensas, ora de fácil esquecimento; mas tem, nos seus amigos, Miguel e Duarte, parte da consciência, essa mesmo que o vai lembrando constantemente das asneiras feitas. Num desses encontros casuais de domingo à tarde, no parque perto de casa, os amigos não dispensam a oportunidade para uma crítica mais aguçada que as do costume:
<< Enquanto não sabes o que te apetece ou enquanto te iludes com esta incerteza, Afonso, por saberes que queres tudo; ela não se preocupa tanto quanto julgas, nem quanto vens a querer que fosse verdade. Enquanto não sabes dizer-lhe que já não a queres, é ela que faz por não te querer pela metade, por um terço ou um quarto, e vira-te, tão simplesmente assim, as costas. Porque hoje já não há amor, enquanto não o sabes querer, ou pedir, nem ter, porque hoje não sabes trocar a impulsividade de tê-la deitada por um sorriso à beira-cais.
E foi-lhe fácil embarcar, sem olhar para trás, nos dias em que a deixaste à tua espera num qualquer cais; enquanto não sabias tu decidir qual dos sorrisos querias e, ao tentar tê-los todos, sufocaste-lhe umas quantas vontades. E assim foi ela, na sua simplicidade de quem não cobra favores, dizer-te ao ouvido que não precisa de ti, que amar não custa e se pode amar sem validade (tanto dura a vida inteira, como dura apenas uma semana). Assim foi ela, caminhando à beira-cais, rumo a quem lhe ofereceu novamente calma (“e sossego, amor”, disse-te).
“Porque, hoje, já não há amor”, disseram-te; mas, não quiseste acreditar. Porra, o amor sempre foi simples, sem motivo aparente, volátil e intenso só no tocar. Porquê complicar? “Porra”, Afonso, bem to disseram, “porque, hoje, já não há amor”. >>
Adaptado do meu projeto anterior – Abre os olhos, Afonso!
Nota: Produção amadora, sem orçamento e sem fins comerciais, feita com o apoio de familiares e amigos – Clica aqui se o vídeo não abrir
GUIÃO
EXT. DIA – PARQUE
Afonso caminha, à conversa, com Miguel e Duarte. Chegados perto de uma mesa de piquenique, sentam-se ao seu redor.
MIGUEL
Enquanto não sabes o que te apetece ou enquanto te iludes com esta incerteza, por saberes que queres tudo; elas não se preocupam tanto quanto julgas…
DUARTE
… Nem quanto vens a querer que fosse verdade.
AFONSO
Não digam isso… Quem vos ouvir dizer isso ainda pensa que não passo de um cabrão.
MIGUEL
E às vezes és o quê?
Enquanto não sabes dizer-lhes que já não as queres a todo o tempo, são elas que fazem por não te querer pela metade, por um terço ou um quarto, e viram-te um dia, tão simplesmente assim, as costas.
DUARTE
Porque hoje já não há amor, enquanto não o sabes querer, ou pedir, nem ter, porque hoje não sabes trocar a impulsividade de ter uma deitada por um sorriso à beira-cais.
AFONSO
E a Margarida? Era amor…
CORTA PARA CLOSE-UP DA MARGARIDA
EXT. DIA – ZONA RIBEIRINHA
Margarida está sentada, olha impaciente o relógio/telemóvel, à espera de Afonso, que não chega. Desiste e começa a andar em direção ao horizonte, sem olhar para trás, afastando-se cada vez mais.
MIGUEL (V.O.)
(Enquanto vemos Margarida a afastar-se)
Tal como era a Sara há uns meses atrás?
(Ri-se)
Mas, vá, pode ser que ainda seja amor sim… ainda assim, sabes bem que foi-lhe bem fácil partir, sem olhar para trás, especialmente nos dias em que a deixaste à tua espera. Teimas em fazer o mesmo, sempre.
FADE-OUT PARA CENAS PASSADAS
INT. NOITE – BAR
Surge um Mashup de várias cenas, repletas de sorrisos de raparigas que já estiveram com Afonso (reutilizar cenas do episódio “Quem é ele?”).
CORTAR COM CLOSE-UP EM MIGUEL
EXT. DIA – PARQUE
Miguel continua a crítica aguçada, enquanto todos relembram as cenas passadas.
MIGUEL
Enquanto não sabias tu decidir qual dos sorrisos querias, foste tentar tê-los todos…
(Ri-se)
… e sufocaste-lhe umas quantas vontades.
CORTE PARA CLOSE-UP DE AFONSO E MARGARIDA
INT. DIA – CASA DA MARGARIDA (HALL)
Margarida fala com o Afonso, em jeito de despedida.
MIGUEL(V.O.)
Não me espanta que te tenha dito que afinal não precisa de ti. Ao jeito dela, simples, como quem não cobra favores.
No final, Margarida aproxima-se do ouvido de Afonso para lhe dizer umas últimas palavras, acenando com a cabeça e sorrindo.
MARGARIDA
Amar não custa. Amar é para ser sem validade, tanto pode durar a vida inteira, como apenas uma semana.
DUARTE (V.O.)
E assim foi ela, rumo a quem lhe oferece novamente calma e…
MARGARIDA
(Diz ao ouvido de Afonso)
Sossego (aconchego?), amor.
CORTA PARA O PARQUE, COM CLOSE-UP NOS AMIGOS
EXT. DIA – PARQUE
Miguel e Duarte continuam sentados, à conversa com Afonso.
MIGUEL
“Porque, hoje, já não há amor”, disse-te ela; mas, não quiseste acreditar.
DUARTE
Se calhar até há, mas, porra, o amor é simples, ou devia ser. Pode até acontecer sem motivo aparente.
AFONSO
Mas é volátil e intenso só no tocar…
MIGUEL
Porquê complicares? Porra, Afonso, bem to dissemos, “porque, hoje, já não há amor”.
FIM